Em encontro no 20º Festival Sesc_Videobrasil, Márcio Seligmann-Silva discute o papel da arte na reelaboração dos traumas
17/10/2017 21:41 em Arte

Márcio Seligmann-Silva e Ana Pato conversam com o público. Foto: Pedro Napolitano Prata

 

Nascida na década de 1980, uma nova geração de artistas brasileiros tem refletido sobre a história do país, propondo novas formas de interpretação do passado. Esse foi o tema da aula aberta realizada no último sábado (14/10) pelo docente de Teoria Literária da Unicamp, Márcio Seligmann-Silva, e a curadora convidada do 20º Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil, Ana Pato, no auditório do Sesc Pompeia. A conversa integra a programação do festival, que segue até 14 de janeiro, incluindo encontros com acadêmicos e artistas da mostra.

Citando o filósofo Walter Benjamin, Seligmann ressaltou o papel da arte como uma "contratécnica" que articula outras narrativas, em contraponto à história oficial. "A arte é uma resposta imaginativa aos nossos problemas. Ao contrário dos acadêmicos, os artistas conseguem articular reações muito mais rápidas aos impasses cotidianos". O pesquisador ainda ressaltou a necessidade de romper as "barreiras entre a arte e a academia".

Ana Pato afirmou que foi justamente essa tentativa de aproximar as disciplinas que guiou a concepção do festival. "Essa exposição é um passeio pela ideia de expansão dos saberes. Uma mesma obra fala tanto de biologia quanto de política. Sabíamos que não podíamos tratar dos assuntos de forma separada, por isso criamos uma teoria fictícia que separa as obras por constelações", afirma.

Dentro dessa divisão expográfica, "uma organização sempre em tensão" como define a curadora, há o eixo "Políticas de Resistência". Nessa parte, estão concentrados trabalhos como o do sul-africano Thando Mama e o da portuguesa Filipa César, que analisam as heranças da opressão colonial, num jogo entre passado e presente. Para Seligmann, essa nova forma da arte mirar a história surge após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

"Com o fim do conflito, a arte deixa de focar nas angústias internas do homem moderno, para questionar a construção dos nossos heróis e os próprios instrumentos do poder, simbolizados, por exemplo, pelos monumentos". Em sua obra, Thando Mama se posiciona em frente a um monumento abandonado, ressaltando o papel da paisagem como símbolo de posse. Seligmann também mencionou a produção dos brasileiros Jaime Lauriano e Rafael Pagatini, artistas na faixa dos trinta anos, que criaram suas obras a partir de pesquisas nos acervos da ditadura militar.

Presente na aula aberta, o curador convidado Diego Matos pontuou que essa nova geração "tem um distanciamento maior, que lhe permite nomimar esse passado". Ele defendeu que no Brasil ainda há um "recalcamento" dos traumas, um processo de ocultamento que se torna evidente com a constante adoção do termo "ditabranda". Em concordância, Seligmann defendeu que essa nova geração está "reinscrevendo a história, chamando atenção para os processos de apagamento".

Ana Pato também chamou atenção para a presença de trabalhos que tratam da relação do homem com a terra. Obras como a da brasileira Louise Botkay ou da peruana Elisabeth Vásquez Arbulú questionam os projetos de modernização baseados em uma exploração sem medida da natureza, aproximando-se de cosmologias indígenas, que trazem novas narrativas sobre a origem do mundo.

Ao fim da conversa, Seligmann ainda notou que nas obras dessa nova geração, não há mais uma tentativa de representar as minorias, como prevalecia na arte engajada dos anos 1960. "Hoje há uma crise da ideia de representação. Os artistas não querem mais falar pelo outro, mas jogar junto com ele. Nesse ponto, há uma mudança bem grande na forma de fazer ativismo".

20º FESTIVAL DE ARTE CONTEMPORÂNEA SE SC_VIDEOBRASIL
Exposição PANORAMAS DO SUL
SESC POMPEIA
4 de outubro de 2017 a 14 de janeiro de 2018
Terça a sábado, das 10h às 21h30. Domingos, das 10h às 19h30

PROGRAMAÇÃO COMPLETA:
http://www.festivalsescvideobrasil.org.br/

Próximas aulas abertas:
Dia 11.11, sábado, às 15h / Auditório
Da arte de hoje ao espaço construído: outras formas e práticas para além do moderno
Com Diego Matos e Guilherme Wisnik

Dia 13.1.18, sábado, às 15h / Auditório
Cosmovisões
Com Beatriz Lemos e Wilbert Villca López

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